quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Antes usada como lenha, madeira de seringueira é transformada em móveis

As seringueiras, árvores emblemáticas da região amazônica e da história econômica brasileira, ganharam uma segunda chance.
Após completarem seu ciclo de produção de látex, que dura cerca de 35 anos, elas costumam ser cortadas, para dar espaço a novas mudas, e utilizadas como lenha.
Na mão de cinco designers brasileiros, porém, o "produto florestal" tido como não madeireiro é fonte para a criação de móveis.
Através do projeto "Seringueira", Paulo Alves, Fernando Jaeger, Zanini de Zanine, André Cruz e os irmãos Sergio e Jack Fahrer produziram doze peças, que serão apresentadas hoje (12) na Marcenaria São Paulo (Rua Harmonia, 815, São Paulo).
"O intuito do projeto é promover o uso da seringueira, estimulando o reaproveitamento da espécie e evitando o desmatamento e extinção de outras já ameaçadas", dizem Sergio e Jack Fahrer.
Fernando Jaeger é admirador declarado desse tipo de matéria-prima e, desde a década de 1990, quando divulgou e disseminou o uso da madeira de eucalipto em móveis, busca e testa novas fontes.
"Há uma grande carência de madeira na indústria moveleira e ter mais uma alternativa é sempre bom", diz.

André Cruz criou bancos em que mistura a madeira de seringueira ao concreto

Banco de Fernando Jaeger, designer que gosta de descobrir e testar novas fontes em madeira

Na "namoradeira" de Paulo Alves, é possível ver pedaços da tora em seu estado bruto

Banco projetado por Zanini de Zanine com madeira de seringueira

O mercado de móveis confeccionados com madeira da seringueira já é estabelecido há mais de vinte anos em países asiáticos como Tailândia, Malásia, Indonésia e Vietnã, produtores de borracha natural graças às sementes de seringueira brasileiras "contrabandeadas" no final do século 19.
"Hoje ainda importamos a borracha natural porque temos uma produção muito abaixo do que consumimos", diz Fernando Genova, idealizador do projeto e presidente da Madeibor, madeireira especializada no plantio e extração da árvore.
BRUTO E MISTURADO
A madeira da seringueira possui uma coloração clara e aceita bem tipos variados de acabamento e tingimento. O resultado são peças sólidas e lisas que podem ser utilizadas na fabricação de pisos, móveis e brinquedos.
O designer Paulo Alves, à frente do projeto, conta que, por se tratar de uma nova opção de madeira para mobiliário, decidiu trabalhar com a matéria-prima bruta.
Ele projetou uma "namoradeira", em que é possível ver a tora em seu estado puro. "Nas extremidades da peça, dá para ver todos os anéis de crescimento da árvore, sendo que cada um corresponde a um ano dela plantada", explica Alves.
André Cruz optou pela mistura de materiais. "Usei o concreto porque vi similaridades entre seu processamento e o da extração do látex, que também é líquido ao ser extraído e depois se torna sólido", diz.
Já os irmãos Fahrer se inspiraram na arquitetura do Estádio do Pacaembu, em São Paulo, inaugurado em 1940.
"É uma cadeira de pés torneados, influência direta das peças de Joaquim Tenreiro. A técnica da madeira curvada confere ao desenho leveza e organicidade. O encosto tem linhas curvas, fazendo referência ao formato do estádio visto de cima", explicam.

Fonte: Folha de S. Paulo 

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