João e Siciane não arriscaram: novo financiamento, só após a quitação do primeiro imóvel
“Comprar apenas pensando em aproveitar as taxas é temerário e especulativo. Em uma adversidade, pode-se acabar perdendo os dois imóveis”, comenta o professor de Finanças da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Pedro Piccoli. Ele indica que o principal preceito a ser seguido é colocar todo esforço na quitação do imóvel que é usado para morar e só depois pensar em investimento.
A compra de uma segundo imóvel para geração de renda com aluguel ou revenda parece tranquila, mas também é preciso avaliar as condições futuras. “A revenda não é tão fácil. Conheço várias pessoas que compraram o segundo imóvel imaginando que em poucos meses venderiam o primeiro, mas isso pode levar mais de dois anos. Nesses casos, a falta de planejamento financeiro e a ilusão de controle sobre o mercado pode fazer com que o comprador entre em dívidas”, pontua Altemir Farinhas, economista e especialista em educação financeira.
Começar a pagar um imóvel esperando o retorno financeiro com o aluguel pode não ser tão vantajoso. É preciso colocar as contas na ponta do lápis. “O aluguel médio de um imóvel gira em torno de 0,7% ao mês, algo como 8,5% ao ano. Dificilmente o comprador conseguirá crédito inferior a essa taxa. Logo, seu lucro estaria restrito à valorização do imóvel, além do risco de ficar sem locatário”, diz Picolli. Para ele, quando a finalidade é o investimento, a compra de imóvel por meio de financiamento não é recomendada.
Lazer
Além do gasto com a compra, a aquisição de uma segunda casa para passeio e férias também gera despesas mensais de manutenção, mesmo quando o imóvel não é utilizado. “Casa na praia ou no campo precisa de mais cuidados, devido à distância e ao tempo que fica sem uso. Nesses casos, é comum que no início haja empolgação, mas depois descobre-se que passam meses sem utilização”, observa o consultor Altemir Farinhas.
“O critério principal a ser observado é o quanto tempo por ano o imóvel será realmente utilizado, avaliar as despesas mensais futuras e só então decidir”, diz Pedro Piccoli.
Opções para o imóvel antigo ao assumir novo financiamento
Siciane Geruntho e João Caserta são proprietários de um apartamento no bairro Novo Mundo, em Curitiba, avaliado em R$ 250 mil e quitado há cerca de dois anos. Recentemente, decidiram mudar para outro apartamento, maior e mais central. Fizeram as contas e viram que seria possível dar o passo. Após muita pesquisa, encontraram uma unidade do jeito que queriam, avaliada em R$ 300 mil. Com uma reserva em poupança, o casal conseguiu pagar cerca de 10% do valor do novo imóvel como entrada, financiando o restante em 35 anos por instituição bancária.
Com o contrato assinado para a nova moradia, surgiu a dúvida: o que fazer com o primeiro imóvel? Entre as opções analisadas pelo casal está o aluguel do apartamento antigo, ainda ocupado por eles, ou a revenda. Para o dinheiro da possível revenda, eles cogitam duas outras possibilidades: quitar a maior parte do novo financiamento assumido ou investir no Tesouro Direto e, com isso, pagar as parcelas do financiamento.
“Antes de comprar o apartamento estávamos sem pressa, analisando as possibilidades. Quando achamos,fizemos muitas contas e simulações. Vimos onde dava para economizar e como íamos pagar”, conta Siciane.
Para os especialistas, a conduta do casal foi acertada: não assumir uma nova dívida sem ter quitado a primeira e cautela ao tomar decisões. Pedro Picolli, professor de finanças da UFPR e Altemir Farinhas, especialista em finanças pessoais, comentaram a situação.
Financiamento
Alternativas para a compra do segundo imóvel
Para quem vai comprar o segundo imóvel não há facilidades como o uso do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), por exemplo. Apenas em alguns casos é possível usar o recurso (leia no box ao lado). Por isso, a compra costuma estar atrelada ao uso do crédito normal, oferecido pelos bancos. Altemir Farinhas recomenda que o financiamento seja a escolha de quem consegue poupar com regularidade e não terá problemas com o pagamento das parcelas mensais. Quem não tem esse perfil, pode optar pelo consórcio imobiliário. “Apesar de muitos não recomendarem devido às taxas e a dependência de sorteio, o consórcio funciona como uma poupança forçada”, diz.
O professor Pedro Picolli lembra dos Fundos de Investimento Imobiliário. “Como investimento, possuem várias vantagens, como facilidade na compra e venda das quotas, isenção de Imposto de Renda sobre o aluguel recebido, a obrigatoriedade que esses fundos têm de distribuir 95% da receita entre os cotistas, o fato de ser administrado por profissionais e, o mais importante, a diversificação”, diz. Para pesquisar essa opção é preciso ter paciência. “Os prospectos de fundos imobiliários costumam ter mais de 200 páginas”, comenta. Além disso, outro cuidado é investir em fundos diversificados. “Ideal é evitar aqueles de um empreendimento único, ou amarrados com uma grande empresa apenas”, afirma.
Recurso
Quando dá para usar o FGTS
O uso do FGTS para amortizar parte do financiamento de um segundo imóvel é restrita e só acontece em algumas situações. Uma delas é quando o interessado em usar o recurso é dono de menos de 40% da fração ideal de um imóvel: se a compra foi feita com mais duas pessoas, por exemplo, o FGTS estará liberado. Outra situação que permite a utilização do fundo é quando há perda do direito de morar no primeiro imóvel, seja por separação judicial ou divórcio.
A outra possibilidade de uso do FGTS é quando se recebe um imóvel como doação ou herança e ele está em usufruto de outra pessoa. Todas essas situações exigem que as regras gerais de acesso do recurso sejam seguidas: é preciso estar trabalhando há pelo menos três anos sob o regime do FGTS e o imóvel deve estar dentro do limite de valor de até R$ 500 mil. (TB)
Alternativas
Veja as vantagens e desvantagens de cada opção:
Vender o apartamento antigo e quitar boa parte da dívida:
- Para Altemir Farinhas, nesse caso, a venda tinha de ser feita anteriormente, para não haver risco de não conseguir desfazer-se do imóvel. “Pode ser muito demorado e, nesse período, vai ser preciso arcar com despesas como condomínio e IPTU. Por outro lado, muita gente não fica em paz diante de um financiamento longo e vai se sentir mais aliviado com uma dívida é menor”, diz.
Usar o dinheiro da venda para investir no Tesouro Direto e com o rendimento pagar as parcelas:
- Embora o Tesouro Direto seja uma aplicação mais segura, sempre há risco de mudança ao longo do prazo do financiamento. Além disso, nesses casos, não é interessante fazer resgates do valor aplicado. “Se o casal pretender pagar as parcelas com o dinheiro investido no tesouro, terá que fazer resgates antecipados. Neste caso, estará sujeito a variações severas do valor do título, principalmente em um cenário de aumento de juros”, explica Picolli.
Alugar o antigo apartamento e usar a renda para pagar as parcelas:
- Nessa opção, corre-se o risco de o imóvel ficar algum tempo sem ser alugado. Se for alugado, há a possibilidade de inadimplência do inquilino. No entanto, manter o imóvel torna possível esperar uma valorização. Além disso, de acordo com os especialistas, não dá para prever que o valor do aluguel cubra a parcela do financiamento.
Fonte: Gazeta do Povo
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