quarta-feira, 27 de março de 2013

Recuperar antes de construir

Investimento de incorporadoras no entorno dos empreendimentos é positivo para a cidade e também para as vendas

Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo / Parque Italiano, no Butiatuvinha, foi patrocinado por uma incorporadora

A política da boa vizinhança ganha força antes mesmo de a obra ser entregue. Ao lançar um empreendimento, além de planejar o projeto e pesquisar o público-alvo, as incorporadoras podem, também, investir na recuperação da rua e de praças, auxiliar o comércio da região e cuidar de áreas verdes próximas.
Os valores investidos refletem em retorno financeiro: quando inseridos em uma região bonita e com atrativos, os imóveis são mais valorizados. Além disso, a empresa ganha pontos com o público, melhorando sua imagem e associando seu nome a ações positivas.
Embora seja uma estratégia comercial, levar novos ares para a vizinhança traz retorno para toda a cidade e seus moradores. “Isso tem sido comum. Os incorporadores buscam a administração municipal ou estadual, ou os órgãos de controle, e juntos promovem a recuperação do entorno”, comenta o professor de Arquitetura da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Paulo Chiesa.
Procurar o poder público para negociar transformações no entorno e fazer parcerias com as instituições privadas são ações bem-vindas. O presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), Sérgio Póvoa Pires, diz que esse tipo de iniciativa por parte das construtoras é vista com bons olhos pela prefeitura. Ele considera a prática uma saída para resolver alguns problemas urbanos. “Isso torna a cidade mais participativa. Esse tipo de aliança está entre as nossas opções, mas a prefeitura precisa ser criteriosa para garantir que a compensação oferecida pelas construtoras seja positiva para todo mundo”, observa.
Estratégia
Do lado das empresas, a estratégia de recuperar para construir nunca é descartada. “Quando o incorporador tem um bom terreno, bem localizado, não vai colocar em risco o desempenho comercial por causa da região. Se o entorno não está adequado, a empresa vai tentar resolver isso para aumentar as chances de sucesso do empreendimento”, diz Eduardo Quiza, diretor de incorporações da Invespark.
O professor Paulo Chiesa observa que nem sempre o poder público tem condições para se dedicar à infraestrutura de uma região. “Mas é preciso que a intervenção das empresas no entorno esteja subordinada ao Plano Diretor e não prejudique o planejamento da cidade como um todo”, diz.
Os investidores querem tornar seu empreendimento especial aos olhos do comprador. “No caso do condomínio do Parque Italiano, por exemplo, a construtora garante ao comprador que na vizinhança sempre haverá o valor paisagístico agregado ao imóvel”, comenta Chiesa.
Inaugurado em 2010, no Butiatuvinha – região de Santa Felicidade – o Parque Italiano foi construído com recursos da incorporadora Green Village, empresa constituída para a construção do condomínio horizontal que leva o mesmo nome. Na época, a empresa divulgou que o investimento no parque ultrapassava os R$ 600 mil e incluía, além da estrutura do espaço, o asfaltamento de ruas próximas.
Ex-rejeitadas, regiões centrais ganham obras

A região próxima à rua Riachuelo e praça Generoso Marques, no Centro Histórico de Curitiba, passou recentemente por um processo de revitalização que envolveu a prefeitura e entidades ligadas ao comércio. Walderes Bello, consultora do Sebrae que participou da iniciativa, conta que as ações de melhoria da região ajudaram na valorização imobiliária do entorno, hoje simbolizado pelo Paço da Liberdade, imóvel histórico restaurado e transformado em centro cultural. “As empresas percebem que a região está se tornando importante para a cidade e resolvem investir. Esse movimento é muito positivo”, comenta.
Esse tipo de parceria ganha reflexos mais evidentes quando acontece na região central. “O Centro tem toda a infraestrutura necessária, por isso é muito bom quando há um movimento de retorno da moradia”, comenta Walderes. A incorporadora Thá percebeu essa mudança e investiu em um empreendimento misto entre as ruas São Francisco e Treze de Maio. O Green Center terá uma torre comercial e outra residencial. No térreo, uma galeria com lojas e restaurantes fará a ligação entre as duas ruas.
Para o diretor de incorporação do Grupo Thá, Nilton Antonietto, o primeiro passo, nesses casos, é investir na proteção do próprio investimento. “Também temos um prédio em construção no Rebouças, perto da Rodoferroviária, onde fizemos a restauração da Ponte Preta. Nos dois casos, oferecemos questões de acesso, portaria e câmeras, deixando o condomínio seguro. Mas também pensamos ‘da porta para fora’, na sinergia com a região”, diz. De acordo com Antonietto, em projetos mistos, a união entre residencial, comercial e galeria com lojas mantém movimentação por mais horas do dia.
Incentivar o comércio vizinho é um dos pontos em foco. A Thá patrocinou uma feira de gastronomia na rua São Francisco, logo após o lançamento do Green e pouco antes das festas do fim do ano, e deverá investir em outras ações locais. “É preciso fazer investimentos nesse tipo de terreno para descaracterizar a imagem negativa. Quem vai comprar adquire uma unidade em uma região consolidada”, diz Antonietto. Em breve, a Thá vai anunciar outro lançamento na rua Riachuelo, que terá um casarão preservado na área – a empresa não confirma, mas a contrapartida deve envolver ações culturais.

Fonte: Gazeta do Povo 


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