sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Casas pré-fabricadas têm toque artesanal e ecológico em busca de mercado

O estresse que ele sofreu ao tentar uma reforma que expandiria a área de sua casa em Boston, Massachusetts, levou Bill Haney, 50) a criar uma empresa cujo objetivo é ajudar outras pessoas a escapar dessa frustração.
A expansão, realizada com o uso de métodos e materiais de construção tradicionais, provou-se "impossível de administrar, em termos de custo e prazo", diz Haney.
E por isso, cinco anos atrás, ele criou a Blu Homes, uma companhia de casas pré-fabricadas cujo objetivo é fabricar residências projetadas por arquitetos, ecologicamente eficientes e com componentes produzidos em fábrica.
Casas pré-fabricadas, cujos componentes são produzidos em uma fábrica e depois transportados ao local da construção, há muito prometem um caminho melhor para a construção das casas modernas.
No começo do século 20, arquitetos anteviam um futuro no qual as casas, como os carros, poderiam ser produzidas em linhas de montagem.
Mas as propostas de importantes arquitetos como Frank Lloyd Wright jamais conquistaram sucesso na produção em massa, prejudicadas desde o primeiro passo por problemas tecnológicos e custos proibitivos, bem como por estarem adiante de sua era em termos de design.
No lugar disso, foi na ponta mais barata do mercado - com os kits de construção de casas da Sears, Roebuck, nos Estados Unidos, e as casas pré-fabricadas de emergência criadas no Reino Unido logo depois da Segunda Guerra Mundial, no final dos anos 1940 - que o método prevaleceu, resultando na imagem das casas pré-fabricadas como edificações feias, construídas com materiais baratos.
Mas hoje existem diversas companhias que estão desenvolvendo novas técnicas com o objetivo de resolver os problemas do passado, ajudando a trazer casas pré-fabricadas de alta qualidade, eficiência energética e preço acessível a um mercado mais amplo.
De acordo com recente relatório do grupo de pesquisa Global Industry Analysts, o mercado mundial de casas pré-fabricadas atingirá 829 mil unidades em 2017.
ORIGAMI
Mas a personalização computadorizada tornou possível projetar e construir objetos não idênticos que reconciliam a produção em massa e o espírito artístico individual.
A Blu Homes, por exemplo, desenvolveu uma nova tecnologia conhecida como "configurador" - uma ferramenta online de projeto que permite que as pessoas criem uma impressão 3D detalhada da casa que escolherem, obtendo o preço e prazo fixo de construção.
A empresa também desenvolveu ferramentas de construção que permitem que as casas sejam produzidas já equipadas com peças de banheiro, encanamentos e sistemas elétricos.
Depois, a casa é dobrada como um origami, para facilitar o transporte, e levada ao local onde uma equipe a posiciona sobre fundações em prazo que pode ser de apenas um dia, antes de realizar o acabamento.
A Blu Home constrói suas casas em uma fábrica em Vallejo, perto de San Francisco, e vem dobrando seu faturamento a cada ano desde sua fundação em 2008, diz Haney. No ano passado, a companhia obteve US$ 40 milhões em encomendas, total que deve ser dobrado este ano.
Os modelos da empresa variam de casas de quarto e sala a unidades com quatro dormitórios, com preços de US$ 2,1 mil a US$ 3,9 mil por metro quadrado. Isso inclui projeto personalizado, um gerente de obra e eletrodomésticos.
Levando em conta os custos adicionais do terreno, fundações, preparação do lote e melhorias opcionais, uma casa pré-fabricada pode custar até US$ 9,3 mil por metro quadrado.
ECOLÓGICA
O Connect:Homes, escritório de arquitetura de Los Angeles, oferece casas pré-fabricadas por preço a partir dos US$ 2,1 mil por metro quadrado, incluindo entrega, instalação e toques ecológicos como balcões produzidos com vidro reciclado de garrafas e pisos de madeira sustentável.
"Queremos fazer das casas pré-fabricadas de alta qualidade um mercado estabelecido", diz Gordon Stott, que co-fundou o escritório no ano passado com Jared Levy. Os dois trabalharam juntos na Marmol Radziner Prefab, uma companhia de arquitetura de casas pré-fabricadas, em Los Angeles.
"Na Marmol Radziner Prefab, recebíamos consultas do mundo todo, mas descobrimos que transportar uma casa pré-fabricada por distâncias superiores a 300 quilômetros tinha custo proibitivo", diz Stott.
A Connect:Homes reduziu esses custos ao criar módulos de habitação que podem ser transportados como contêineres de navegação, via caminhão, ferrovia e navio, para a maior parte dos países do mundo.
A primeira linha de casas modernas e sustentáveis do novo escritório, conhecida como série Connect, é formada por dois a oito módulos que são 90% completados na fábrica a fim de manter o controle de qualidade e reduzir a necessidade de trabalho dispendioso no local da obra.
MULTIFAMILIARES
A arquiteta Michelle Kaufmann também tentou enfrentar o problema do custo ocasionalmente proibitivo das casas pré-fabricadas. Ela tinha uma empresa de projeto de casas pré-fabricadas individuais, em Los Angeles, mas terminou por fechá-la em função da recessão de 2009.
Agora vivendo em San Francisco, Kaufman co-fundou a Vannevar Technology, na qual colabora com engenheiros de software no desenvolvimento de tecnologia pré-fabricada para reduzir a escassez de moradias em áreas urbanas superpovoadas.
"Unidades de habitação multifamiliares [como edifícios de apartamentos] são necessárias para sustentar o crescimento populacional das cidades", ela diz.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que, até a metade do século 21, a população urbana do planeta vai quase dobrar, dos 3,4 bilhões de pessoas de 2009 a 6,4 bilhões em 2050.
"Já tem tanta gente sem acesso ao abrigo de uma casa saudável e duradoura. Quero facilitar e baratear sua construção", diz Kaufman.
Trabalhando com grandes incorporadoras de imóveis nos Estados Unidos, China, Índia e Brasil, ela diz que os avanços tecnológicos no setor de casas pré-fabricadas podem ter benefícios ambientais e de custo significativos, gerando menos desperdício e permitindo melhor controle de qualidade.
"Pode-se obter desperdício de 50% a 75% menor em uma fábrica, por uma combinação de sistemas de corte de precisão e capacidade de armazenagem para a reciclagem de materiais de construção", diz Kaufman.
"Com o uso de tecnologias como sistemas de guindastes suspensos, é possível construir um teto no chão de uma fábrica, em lugar de trabalhar em andaimes a seis metros de altura, o que permite cuidar melhor dos detalhes e evitar erros dispendiosos. Também é possível obter economias de tempo e custo ao usar a mesma equipe de funcionários altamente capacitados em uma fábrica a cada dia, em lugar de depender de trabalhadores casuais no local de construção", completa.
ECONOMINA COLETIVA
Allison Arieff, ex-editora da "Dwell", revista de arquitetura norte-americana, e autora de "Prefab" (2002), concorda que projetos de moradia para múltiplas famílias, combinando usos residenciais e comerciais, são a melhor aplicação da tecnologia de construções pré-fabricadas.
"Vi muito poucas indicações de que as pessoas possam economizar muito dinheiro construindo uma casa pré-fabricada individualmente", diz Arieff. "Seria como usar uma fábrica para produzir um carro só. Não existiria economia de escala".
"Construir o mesmo tipo de casa reduz o custo", diz Steve Glenn, fundador e presidente-executivo da LivingHomes, uma companhia de casas pré-fabricadas em Santa Monica, Califórnia.
Tendo sobrevivido à recessão no mercado imobiliário, sua empresa vendeu duas vezes mais casas no ano passado do que nos quatro anos anteriores somados.
Isso se deve em parte, diz Glenn, à oferta de casas de preço mais baixo. Agora, a empresa está planejando seu primeiro projeto como incorporadora: oito casas e mais espaço comercial em parceria com uma incorporadora de Los Angeles.
A LivingHomes também oferece imóveis de alto preço, como os projetados pelo arquiteto californiano Ray Kappe. A série oferece cômodos amplos e bem iluminados e materiais naturais sustentáveis, com preços a partir de US$ 589 mil.
O valor de mercado da casa premiada que Kappe projetou para Glenn, construída em Santa Monica em 2006, é hoje de aproximadamente US$ 3 milhões.
Embora o mercado norte-americano de construções pré-fabricadas ainda fique abaixo de países como a Suécia, Austrália e Japão, está conseguindo avanços ao oferecer aos consumidores casas modernas, com baixa emissão de carbono e menos dores de cabeça do que é normal ter quando uma pessoa decide construir uma casa.
As casas pré-fabricadas já passaram por falsas alvoradas no passado. Mas há muita esperança de que agora elas enfim vejam a luz do sol.

Fonte: Folha de S. Paulo 

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