Detalhes originais do contêiner podem ser incorporados como elemento estético do projeto
Pouca gente sabe que contêineres marítimos têm uma vida útil de 10 a 15 anos. Depois disso, não servem mais para o transporte de cargas em navios e devem ser descartados. Até pouco tempo, as peças em aço costumavam ser totalmente inutilizadas, mas nos últimos anos os caixotes metálicos vêm sendo resgatados por arquitetos, engenheiros e projetistas para fazer casas e imóveis comerciais.
É um jeito rápido de construir – e até 30% mais barato do que o sistema tradicional de alvenaria.
Resistente
Mesmo após 15 anos de uso, a estrutura do contêiner permanece resistente. Basta readequá-lo para uso imobiliário. Em projetos residenciais, é imprescindível o uso complementar de materiais que garantam conforto termoacústico.
Placas internas, como drywall, garantem o isolamento. A estrutura permite aberturas para portas e janelas convencionais. O contêiner recebe pintura e outros acabamentos convencionais.
Entre os diversos motivos a favor dos uso contêineres para construções, um dos principais é a sustentabilidade. Recicladas, as peças que seriam descartadas como lixo servem a um novo - e duradouro - propósito. Além disso, trata-se de uma construção rápida e limpa.
“A obra praticamente não gera resíduos nem desperdício, e exige pouca mão de obra”, comenta Danilo Corbas, arquiteto e urbanista que atua em São Paulo com esse tipo de projeto.
Rapidez
O sistema modular, a exemplo de outras técnicas construtivas industrializadas, como woodframe e steelframe, permite montagem rápida. Uma casa de alto padrão fica pronta entre três e quatro meses.
Há ganhos estéticos também. Detalhes originais do contêiner, como portas e placas que indicam especificações técnicas, podem ficar aparentes, revelando um projeto moderno.
“Algumas pessoas procuram por desejar uma solução mais barata, outras estão interessadas em sustentabilidade ou gostam da estética que as estruturas proporcionam, mas na realidade a maior parte dos clientes gosta de tudo isso junto”, comenta o arquiteto.
Pequeno e escuro?
Um rápido olhar em contêineres fechados sendo transportados em caminhões, ou mesmo a visão de um depósito dos blocos metálicos, não remete à sensação de aconchego que um imóvel tem de trazer.
No entanto, a transformação do contêiner em um cômodo da casa revela que a estrutura, quando bem trabalhada, não deixa a desejar para a alvenaria estrutural ou outros modelos construtivos.
Arquitetos que projetam imóveis em contêineres devem aplicar técnicas adequadas para atingir um bom resultado.
“É possível obter boa condição termoacústica”, garante Danilo Corbas. “Orientação e implantação correta da construção, observação de ventos no terreno, utilização de árvores e plantas como anteparos à insolação e o uso de elementos arquitetônicos que possam melhorar o desempenho térmico da construção são itens a considerar”, argumenta o arquiteto.
Entre as opções que podem ser aplicadas a esse tipo de construção estão os telhados verdes, telhas térmicas, cores claras e materiais isolantes. ‘Há muitas técnicas modernas para enfrentar desafios construtivos”, observa Corbas.
Vivendo em contêineres
Uma casa de alto padrão em condomínio fechado no bairro Orleans, em Curitiba, que foi construída utilizando seis contêineres, é habitada há oito meses por uma família composta por casal e uma filha.
A “casa piloto” foi planejada pelos arquitetos Danilo Corbas e Priscila Festemberg com peças tratadas pela Delta Contêineres. Com 220 m² de área total, a residência foi finalizada em quatro meses. Cada contêiner custou cerca de R$ 39 mil, incluindo acabamento interno, pintura e revestimento.
“Calculamos que nessa casa o preço do m² ficou em torno de R$ 1.600, valor competitivo com relação à alvenaria tradicional”, comenta Priscila.
Depois de feita a fundação básica, com sapatas de 40 cm, a estrutura foi montada em apenas um dia.
Em estilo moderno, a residência tem ambientes internos amplos. Sala e quarto foram feitos com a junção de dois contêineres soldados. Internamente, as paredes são em drywall. Há uma escada em granito e piso aquecido em alguns cômodos.
Os moradores aprovam totalmente o projeto. “Morávamos em uma casa convencional antes de vir para cá. Mesmo estando dentro de contêineres, não há mudanças no conforto”, conta Kátia Gabardo.
A principal alteração no cotidiano da família é a curiosidade dos vizinhos. “Todo mundo do condomínio já nos visitou e quis entrar para ver se dá mesmo para morar dentro de contêineres”, lembra Kátia. O visual moderno deixou aparentes alguns detalhes da estrutura.
Priscila Festemberg diz que esse tipo de projeto está se popularizando no país. “As pessoas estão percebendo que é viável. Diariamente recebemos pedidos de orçamento para casas e imóveis comerciais. A dificuldade é mostrar que uma casa feita em contêineres pode ser confortável, bonita e com identidade”, diz a arquiteta.
A alternativa se espalha por iniciativa de arquitetos que vêem na construção com contêineres a união entre sustentabilidade, redução de custos e projetos ousados. A estrutura firme dos módulos permite, inclusive, que sejam empilhados – dá para colocar até cinco contêineres, um em cima do outro, sem risco.
No Mato Grosso do Sul, o arquiteto Celso Costa Filho promete entregar uma casa de 60 m² em 45 dias ao custo de R$ 80 mil, incluindo paisagismo e sistema de esgoto ecológico. Costa diz que outra vantagem da construção com contêineres é a possibilidade de ampliação futura sem transtornos com reforma.
A estrutura de cargas também vem sendo usada para imóveis comerciais. Em Curitiba, a franquia de salões de beleza Pocket Beauty está instalada em contêiner. A diretora de operações da empresa, Juliana Jaes, conta que o módulo foi produzido em Piraquara e é distribuído em todo o Brasil. “Escolhemos o contêiner porque a obra fica pronta em 30 dias. Com todo o revestimento funcional e decorativo, teve um custo final de R$ 60 mil”, afirma.
A arquiteta Priscila Festemberg garante: imóvel em contêineres é charmoso e tem qualidade
Vantagens
Custo e praticidade atraem usuários
Além da sustentabilidade e do visual moderno, a redução de gastos é um bom argumento na escolha pelos contêineres. Quem trabalha com esse tipo de projeto diz que o custo pode ser até 30% menor do que seria necessário para construir uma casa do mesmo tamanho em alvenaria estrutural.
A construção com os módulos fica mais barata porque, entre outros itens, permite montar o imóvel sem necessidade de grandes obras de fundação ou da estrutura do telhado. “É possível usar uma sapata de 40 cm para a fundação, ou seja, é mais simples. A estrutura do contêiner vem pronta, é forte e resistente”, aponta a arquiteta Priscila Festemberg. O telhado é opcional, pois a vedação correta do contêiner já faz o papel de cobertura.
Reciclagem
Cada módulo passa por reforço e pintura
Os contêineres utilizados para fins imobiliários são reciclados por especialistas. Depois de serem descartados do uso para cargas marítimas, os módulos passam por avaliação. Os que serão destinados a imóveis passam por avaliação minuciosa e são aprovados conforme o estado de conservação. Na Delta Contêineres, antes de ser reutilizada a estrutura passa por um processo de recondicionamento, reforço e pintura com tinta automotiva. O custo inicial de um módulo de 40 pés, com 30 m², é de cerca de R$ 6 mil. O preço final para a construção depende de adaptações, acabamentos e aberturas para portas e janelas, de acordo com o projeto. Os contêineres usados para imóveis têm 12 metros de comprimento e 2,5 de largura.
Fonte: Gazeta do Povo
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