terça-feira, 29 de outubro de 2013

Você é o que empilha: livros decoram a casa e falam sobre quem é o morador

Ocupando posição de destaque na loja William Wayne & Co. da avenida Lexington, em Nova York, fornecedora de acessórios decorativos, o que temos é um livro clássico.
Em um mostruário envidraçado na entrada da loja, entre um cinzeiro do Stork Club e uma embalagem clássica do pó compacto Revlon, há um livro em formato pequeno e com uma estampa de zebra muito característica em sua capa de linho.
Publicado em 1940, "I Married Adventure", de Osa Johnson, traz as memórias da vida da autora em safári permanente na companhia do marido, o aventureiro e fotógrafo Martin Johnson.
Como os demais objetos que o cercam, o livro, que custa US$ 150, é uma recordação sobre uma determinada forma de boa vida.

A autobiografia de Richard Avedon, com letras vermelhas sobre material de encadernação marrom, é um clássico da fotografia e da decoração

Temas indianos na capa de livros combinam com demais elementos da decoração

"I Married Adventure”, de Osa Johnson, traz as memórias da vida da autora em safári permanente na companhia do marido, o aventureiro e fotógrafo Martin Johnson. A capa de zebra chama a atenção

Os livros escolhidos para decorar mesas e sala dizem sobre quem é o morador

Empilhe livros de tamanhos, cores e tipograficas diferentes e inusitadas




Também é um totem conhecido entre aqueles que trabalham nas artes decorativas --decoradores, designers e editores de revista-- como um código visual que causa ou sorrisos ou caretas.
"A cada cinco meses, mais ou menos, surge um exemplar em uma loja ou feira de antiguidades e tenho de desviar meus olhos e fugir correndo", diz Jeffrey Bilhuber, veterano decorador de interiores de Manhattan.
"Caí vítima dele uma vez, quando jovem. Foi meu primeiro grande projeto, mais de vinte anos atrás, uma tentativa de demonstrar sofisticação. Mas assim que vi o livro sobre a mesinha de centro, percebi que tinha cometido um erro".
Que livros podem ser belos é um truísmo na indústria editorial. Que podem ser decorativos, objetos gráficos a serem exibidos sobre superfícies horizontais como qualquer outro bibelô, é uma realidade que os decoradores abraçaram.
Mesmo sabendo que certos títulos tendem a ressurgir periodicamente na forma de peças de decoração, como uma canção pop tocada muito mais vezes do que mereceria.
Do "Cabinet of Natural Curiosities" da Taschen, um calhamaço de quase dez quilos lançado em 2011 com capa vermelho coral, a títulos antigos como o de Osa Johnson ou qualquer um dos livros de Slim Arons, fotógrafo de momentos de lazer da classe alta tradicional dos Estados Unidos na era "Ice Storm", o livro de mesinha de centro (ou livro ilustrado, para usar o jargão do setor) diz tanto sobre o decorador que projetou uma sala quanto sobre a personalidade do dono da casa.
SOBRECAPA
Nas palavras de Tom Scheerer, cuja monografia "Tom Scheerer Decorates" sai neste mês pela Vendome Press, "ah, o subtexto e o prestígio das mesinhas de centro".
Ao selecionar o padrão de capa que solicitou que a editora adotasse para seu livro, Scheerer "estava pensando na disputa do espaço da mesinha de centro e sobre como usar esse tipo de recurso para ajudar na disputa por posição".
Ainda que, em lugar de optar por uma estampa zoológica, ele tenha escolhido uma referência à cana, mais próxima de seu léxico visual.
Os compradores já reportam que estão abandonando a sobrecapa para deixar visível o padrão decorativo da capa, diz Scheerer. Aestate, autor de um conhecido blog de design, se referiu ao livro sem a sobrecapa como "uma total delícia para a mesinha de centro".
Magowan, editor da Vendome, lembra-se de ter encadernado um livro sobre minigolfe com grama artificial, um material que causou estrago na gráfica que imprimiu o livro em Cingapura.
A produção foi suspensa até que "descobríssemos uma forma de encadernação que não pulverizasse a grama artificial".
Capas distintivas, ele aponta, costumam ter bom efeito. "O que quer que possamos fazer para tornar o objeto mais especial ajuda", ele disse.
O decorador Miles Redd deu ao seu livro, um grosso volume de mais de três quilos lançado no ano passado pela Assouline, o título "The Big Book of Chic" e escolheu um fundo branco com letras vermelhas para a capa, ecoando clássicos como a autobiografia de Richard Avedon (letras vermelhas sobre material de encadernação marrom).
"Foi estratégico", diz Redd. "Gosto de tipografia. Minha sensação era de que todo decorador tinha um livro e eu queria me destacar. O meu talvez venha a ser um desses que você se cansa de ver. Isso significa que será um sucesso, e portanto, ótimo".

Fonte: Folha de S. Paulo


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