quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Enquanto na maioria das cidades do mundo muitos prédios são erguidos, em Detroit é preciso destruí-los

 Enquanto na maioria das cidades do mundo, edifícios e mais edifícios são erguidos, em Detroit, nos Estados Unidos, o que acontece quando o problema é justamente a sobra de edifícios? Esta é exatamente a situação de Detroit hoje. Devido ao rápido declínio populacional desde seu auge na metade do século XX, a cidade apresenta cerca de 78 mil estruturas e edifícios vazios. 

A cidade foi uma das mais afetadas pela crise e encontra-se em estado de falência com uma dívida acumulada em quase 20 bilhões de dólares. É a maior falência municipal da história do país.

Atualmente, metade das pessoas com mais de 16 anos já não tem emprego. Fábricas de automóveis se tornaram ruínas enferrujadas. A GM, Ford e Chrysler, já deixaram desempregados 250 mil trabalhadores. Cerca de 40 mil casas e terrenos estão abandonados. Prédios, teatros, igrejas, estações de trem, escolas, bibliotecas, também fazem parte da lista dos imóveis abandonados. 

A prefeitura está sem recurso para prestar o serviço de iluminação pública e muitas ruas estão às escuras. A criminalidade é 3 vezes maior que a média nacional e 36% dos moradores vivem abaixo da linha da pobreza. Quem precisa de ambulâncias ou polícia tem que esperar horas para ser atendido. A população foge de Detroit. De um total de mais de 1 milhão, hoje não passa de 300 mil habitantes.

Enquanto políticos em outras partes do mundo ganham apoio ao prometer novas construções e crescimento, o prefeito de Detroit Dave Bing anunciou seu plano de demolir 10 mil casas abandonadas até o fim de seu mandato, em 2015. 





Fotos: Camilo José Vergara

Cidade colaborativa

Felizmente, alguns estão aproveitando o melhor da situação, com iniciativas sustentáveis que criam empregos e benefícios econômicos para os habitantes que ainda restam na cidade. 

Uma destas iniciativas é Recycle Detroit, um projeto de Christopher Siminski, estudante de mestrado da Lawrence Technological University. Muitos edifícios, demolidos pela administração da cidade ou que, por serem negligenciados, entraram em colapso, não tiveram seus terrenos limpos, resultando em montes de materiais e destroços espalhados por toda a cidade. 

A página de Siminski oferece um mapa interativo destes terrenos, detalhando onde há materiais que podem ser recuperados e os tipos destes materiais em cada terreno. O mapa é alterado pelos usuários, que podem documentar os locais que encontram. Esta ferramenta proporciona aos habitantes de Detroit um fonte gratuita de dados para encontrarem materiais de construção também gratuitos e compartilharem informações sobre sua cidade. 

Outra iniciativa é Reclaim Detroit, uma organização sem fins lucrativos que oferece uma alternativa à demolição: a desconstrução. O processo de desconstrução procura desmontar um edifício peça por peça, deixando os componentes construtivos do edifício na melhor condição possível para serem recuperados. Embora este processo necessite de mais tempo e mais pessoas envolvidas, Reclaim Detroit consegue baixar o custo total dos investimentos ao vender os materiais recuperados. Outro benefício para as pessoas que pagam pela desconstrução é que o valor da venda dos materiais é deduzível dos impostos, pois é considerado uma doação.

O processo de desconstrução proporciona mais empregos que a demolição, o que significa que trabalhos como o desta organização são vitais em uma cidade com taxas tão altas de desemprego.

Tanto o Recycle Detroit quanto o Reclaim Detroit são iniciativas que encaram a demolição e a contração da cidade através de uma perspectiva outra. Onde muitos vêem um sintoma de declínio e regressão, elas vêem a demolição como uma fonte que, ao invés de ser um modo dispendioso de remover as edificações daqueles que já partiram, poderia ser um meio de beneficiar aqueles que ainda vivem em Detroit.

Fonte: Imóvel Class

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